O que é Empoderamento ?
Publicado em Quarta, 22 Janeiro 2014
Alderico Sena
Paulo Freire o educador brasileiro autor do termo Empoderamento, em seu sentido transformador “Eu gostaria de ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, a terra, a água, a vida”. Pode-se dizer então que Paulo Freire criou um significado especial para a palavra Empoderamento no contexto da filosofia e da educação, não sendo um movimento que ocorre de fora para dentro, como o “Empowerment”, mas sim internamente, pela conquista. Assim, observa-se que o “o termo inglês trai o sentido original da expressão: Empoderamento implica conquista, avanço e superação por parte daquele que se empodera (sujeito ativo do processo), e não simples doação ou transferência por benevolência, como denota o termo inglês empowerment, que transforma o sujeito em objeto passivo”. (SCHIAVO E MOREIRA, 2005).
A raça negra precisa deixar de transferir os seus direitos para outrem e assumir sua cultura se é capaz de criá-la também será capaz de administrá-la, pois tem poder para isto. Por falta de educação, conhecimento, organização, cooperação, solidariedade e de liderança, o negro passa o domínio da sua cultura ao branco. Como por exemplo:
A Justiça, através de um Juiz, proibiu a venda de Acarajé nas praias, pelo fato do dendê prejudicar a areia, sem levar em consideração a coibição de barracas nas praias, onde tirou a subsistências de famílias negras. Vejamos no futuro próximo quem irá comercializar suas iguarias na praia se não vai ser o branco com belas estruturas de barracas com patrocínio de grandes empresas. As baianas são o símbolo da cultura negra na Bahia e precisam ser ouvidas, reconhecidas, valorizadas e amparadas.
A Capoeira no passado quem jogava eram os negros, hoje é um esporte internacional, brancos jogam em belas academias luxuosas. Venda de acarajé têm brancas e louras comercializando o Acará, dentre outras iguarias. Clube era para branco brincar o carnaval e o negro (povão) ia para a rua e o que aconteceu botaram o negro nas cordas para proteger o branco e escorraçaram o povão, pais e avós com seu banco, cadeira e tamborete de apreciar seu filho/neto, desfilar no bloco/afoxé na Avenida. Elitizaram o Carnaval com luxuosos camarotes e com preços exorbitantes para brincar a maior festa popular do Brasil e o povão? Como também a lavagem do Bonfim, Segunda Feira gorda da Ribeira e tantos outros eventos originários da cultura negra que estão sendo dissolvidos. O Caruru, cultura do Negro que na raça pouquíssimas pessoas negras têm condições de oferecer um caruru de promessa a São Cosme, Damião e Dou. O Negro basicamente é usado para cozinhar, ensinar e repassar aos brancos suas riquezas culturas e ensinamentos de seus antepassados. São raríssimas pessoas que ainda comemoram uma reza de Santo Antônio, festa de São João e São Pedro, aonde aos poucos também vem sendo arrebatada pelo Capitalismo, a exemplo da descaracterização da festa de São João e São Pedro, como a das Cidades: Cruz das Almas, Amargosa, Senhor do Bonfim e tantos outros municípios, onde Prefeitos veem utilizando altos recursos públicos para contratarem Bandas de AXÉ e não ARTISTAS SAFONEIROS DA REGIÃO para proporcionar a comunidade, o SÃO JOÃO autentico e característico da cultura tradicional do Estado da Bahia. Confesso que tenho pena das gerações futuras que não terão a oportunidade de dançarem um forró pé de serra, tocado na sanfona, bombo e no triangulo, acompanhado de um belo licor, laranja, milho, amendoim, bolo de aipim, carimã e tantas outras comidas e bebidas, típicas da cultura da raça negra.
Qual a estratégia dos altos investimentos no carnaval pelas empresas, levado a camarotes luxuosos, dentre outros requisitos para que o negro lhe proporcione belos espetáculos com saborosas comidas, bebidas e tantas outras alegrias, prazeres e felicidades? É preciso reflexão, ação e não omissão, só assim poderemos revitalizar e reconquistar o carnaval, as festas juninas, a capoeira, o candomblé e tantas outras riquezas da cultura negra autenticas para que todos venham ter o direito de brincar com liberdade e de ir e de vir.
Transcrevemos a letra “CHICOTE MALVADO” da Poetisa Ivanise Senna para reflexão da sociedade, quanto ao conteúdo da Poesia: “Quem disse. Que a escravidão acabou; Está muito enganado; Desde que aqui chegamos; Somos vítimas do chicote malvado; Para as questões do negro; Todos os ouvidos tapados; Estamos na linha do alvo; É bala para todos os lados; Ninguém sobe a favela; Para buscar cinderela; Mas quando vê negro na tela; É só para contar mazelas; Todo negro é suspeito; De cometer algum mal feito; Mas quando faz algo bem feito; Não gera nenhum efeito; Porque alguém de conceito; Sempre tira algum proveito; Somos os vencidos escravos; Desde os nossos antepassados; Que trazidos em viagem; Para este mundo selvagem; Ainda estamos à margem; Até quando este descaso? Quando mudará esta imagem?".
ALDERICO SENA - ALDERICOSENA@HOTMAIL.COM
EX- DIRETOR EXECUTIVO DA SECNEB - SOCIEDADE DE ESTUDOS DA CULTURA NEGRA NO BRASIL